quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Entrevista com Paulo Gannam: inventor automotivo brasileiro


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De protetor de unhas para quem rói as unhas, até um desembaçador para espelhos de banheiro, ele afirma ter mais de 800 ideias na cuca para serem peneiradas, patenteadas e desenvolvidas.

Hoje vamos entrevistar o inventor Paulo Gannam, que vai falar sobre duas de suas criações voltadas para o setor automotivo e para as quais está à procura de parceiros.

São elas: Um Sensor Auxiliar de Estacionamento para proteger pneus, rodas e calotas do contato com o meio-fio e um Sistema de Comunicação entre Motoristas que promete criar um clima amistoso e de cooperação no trânsito – prevenindo acidentes.

Como surgiu a ideia de criar um sistema específico para proteger pneus, rodas e calotas junto ao meio-fio?

Gannam: Foi mais ou menos no final de 2010. Tinha acabado de tomar um cafezinho numa lanchonete. Subindo a pé uma das ruas de minha cidade, ouvi um estrondo. Olho para trás. Tratava-se de uma pessoa que tinha sensor de para-choque em seu carro, mas que, ao encostar o veículo, chocou fortemente as rodas na calçada. Olhei para aquilo e me lembrei de minhas “periódicas barbeiragens”, e das de minha mãe também, e do quanto aquilo gerava tensão, prejuízos estéticos, etc.


Quais foram suas maiores dificuldades ao levar esta ideia adiante?

Gannam:
a)encontrar uma boa assessoria jurídica capaz de formatar o pedido de patente com qualidade, com maiores chances de receber a carta-patente
b)encontrar um desenvolvedor capaz de me ajudar a desenvolver as primeiras provas de conceito do produto a preços acessíveis (procurei sem cessar por uns 3 anos até encontrar)
c)encontrar espaço em parte da mídia geral e da mídia automotiva para mostrar às pessoas o que eu tinha criado
d)ter de aceitar o fato de que os programas públicos de apoio a inventores independentes são péssimos e de que teria de encontrar outros caminhos, não importasse o quanto isto demoraria
e)ter de aceitar a irredutível visão high-tech de algumas pessoas que, ao invés de enxergarem este projeto como uma ótima oportunidade de negócios, consideram o produto um retrocesso pelo simples fato de já existir um carro-autônomo rodando aqui e ali. Não são capazes de entender que inovação e modelos de negócio lucrativos nascem muitas vezes de soluções muito simples. Estão esquecendo de que relatórios recentes dão conta de que só 4% dos 2 bilhões de carros no mundo em 2035 será autônomo. Isto quer dizer que mais de 95% dos carros estarão sem recursos autônomos quase 20 anos a partir de agora. E mesmo as empresas que tentarem lançar estas funções semiautônomas no mercado de reposição terão um problema de aceitação no preço nos países em desenvolvimento.


Quanto gastou em média nessa invenção?

Gannam: Incluindo pagamento de advogados, de taxas, anuidades, exames ao INPI e aos demais órgãos de propriedade intelectual, desenvolvimento de prova de conceito, e todo o tempo e esforço pessoal que uso até hoje com divulgação, negociação, melhorias, etc, por baixo, uns 50 mil reais ao longo dos anos. Lembrando que tive esta ideia mais ou menos no final de 2010.

Você já testou em algum automóvel? Como foi a experiência?

Gannam: Sim, testamos a prova de conceito desenvolvida instalando um sensorzinho próximo de uma das rodas e funcionou bem. Veja:


Este sensor pode, por exemplo, comunicar-se com um app, cluster, painel do veículo com display ou central multimídia, de acordo com o gosto do freguês e das formas de fazer da empresa que inserir o produto no mercado. Só que para ser compatível com a maioria dos veículos de passeio e para a maioria das calçadas de nosso país, temos de pensar que no Brasil não existe padrão. Cada calçada é de um jeito e cada chassi tem uma altura.

Então, para realizar leitura precisa em 100% das situações ou na maior parte dos modelos de veículos, o projeto pode exigir um desenvolvimento mecânico e de design. Assim, uma alternativa será adotar um dispositivo para posicionar estes sensores no local adequado para a leitura precisa.

Estes mesmos detectores de distância poderão ser embutidos e colocados abaixo da lataria lateral, cada qual o mais próximo possível de uma das rodas, totalizando, à primeira vista, 4 sensores.

Já apresentou essa ideia a alguém? Se sim, o que acharam?

Gannam: Sim, já apresentei a vários sistemistas e montadoras e continuo apresentando. Em parte, pelo fato de o momento econômico não ser bom, investidores estão ainda um pouco receosos, pois as classes principais a que inicialmente se destinaria este produto estão com outras prioridades. Mas consideram que o projeto teria boa vazão no aftermarket e, possivelmente, num espectro específico de veículos em montadoras.

E eu concordo. Mas as montadoras também tem suas prioridades. Estão focadas em redução de CO2 nos veículos, em carros elétricos, conectados, autônomos, enfim, projetos que consideram mais urgentes e-ou de longo prazo. O cenário é complexo, resta-me ser o oposto – simples. Ou seja, continuar perseverando, fazendo a minha parte, pois estou certo de que o produto tem diferenciais competitivos importantes, tanto no preço, quanto na utilidade.

Ele salva nossas rodas, poupa-nos de micos, e nos ajuda a estacionar, sendo muito mais barato por ser dotado de componentes mais acessíveis. Já os ADAS ( Advanced Driver Assistance Systems) atolam o carro com sensores, câmeras e softwares que esvaziam sua carteira, não protegem suas rodas dianteiras, e nos irritam com a leitura e movimentos demorados para estacionar o carro numa simples vaga.

A ideia central é de que você não precisa necessariamente de uma função semiautônoma para poder fazer um estacionamento seguro e preciso e também de que não precisará gastar horrores com aquela parafernália de câmeras que calculam a distância. É você, com o auxílio de 4 sensores, quem vai manobrar com liberdade e precisão – e sem esvaziar o bolso! Vai estar pagando por um produto mais eficiente e mais barato.

Quanto custaria para uma pessoa instalar esse sensor no seu automóvel?

Gannam: Isto dependeria também das margens de lucro com as quais trabalharem os fabricantes, distribuidores e varejistas. O custo médio de fabricação, por ponto, está em torno de 13 dólares. Imaginando uma pessoa que deseje colocar 4 sensores, um para cada roda, 13X4 sensores = 52 dólares. Convertendo em reais = R$ 173,00. No varejo/aftermarket, eu estimo um valor em torno de R$ 900,00 (versões simples) a 1.300 (verões Premium). Lembrando que se poderia dar a opção de o consumidor instalar quantos sensores quiser (só na frente, só atrás, próximo só daquela roda que costuma bater com mais frequência, etc).

No sistema tradicional de estacionamento, os sensores são colocados nos para-choques. Como eles são de plástico, é fácil cortar. No seu invento, como os sensores são colocados na lateral? Eles são acoplados nos aros? Se sim, como evitar roubos?

Gannam: Em carros de passeio, em princípio, não seria nos aros. Os sensores deverão ser colocados abaixo da lataria lateral, cada qual o mais próximo possível de uma das rodas, totalizando 4 sensores. Para minimizar o risco de roubos, pode se criar uma embalagem diferenciada, que se transformaria numa extensão da região lateral do veículo, ou outras formas de fazer, como circuitos autodestrutivos (se a pessoa roubar, não funciona mais).

O seu sistema se comunica com o dos sensores frontais e traseiros, de forma que o usuário veja e ouça os avisos através dos dispositivos já existentes no carro? Se sim, como o usuário identifica se o aviso diz respeito a um obstáculo frontal/traseiro ou lateral?

Gannam: Isto vai depender de em que modelos de veículos será lançado o produto e sobre se o motorista irá querer ter tanto sensores de para-choque como sensores de roda em seu veículo. A programação do produto e sua conexão com demais produtos dependerá de uma configuração adotada pelo sistemista ou pela montadora que se interessar em fabricá-lo e lança-lo no mercado.

Mas vamos supor que uma pessoa adquira um veículo no qual já haja sensor de ré vindo de fábrica. Então, ou o display fabricado pela montadora já estará configurado a receber novas leituras, ou o sistema somente poderá sair de fábrica. Outra opção é combinar o uso dos novos sensores laterais com um App em cuja visualização da distância fosse feita no smartphone ou na própria central multimídia. Saída técnica tem, é uma questão de estudar o caso concreto na hora do planejamento do produto.

Sobre o sistema eletrônico de comunicação entre motoristas, como  funciona? Seria um acessório, a ser comprado pelo motorista, ou incluso em centrais multimídia pelas próprias montadoras? Você diz que não precisa de internet. De que forma acontece a comunicação?

Gannam: Ambos os caminhos são possíveis. Estamos falando de um dispositivo eletrônico de comunicação imediata que congrega várias tecnologias de envio e recebimento de mensagem. Ele avisa, com frases bem curtinhas, qualquer problema/situação identificável em um veículo ou nas estradas. Cada mensagem contará com uma numeração/desenho, identificados no painel, na central multimídia, ou no próprio volante do carro.

Esses botões, com um único clique do motorista, acionam a mensagem exata que se deseja enviar a outro motorista ou central, não tirando a atenção por ser de fácil de manusear.

Neste caso especial de comunicação entre um novo hardware e outro, a tecnologia não depende de internet e oferece a possibilidade de comunicação entre gestores do trânsito e motoristas, campanhas de educação no trânsito. A ideia é criar um clima amigável e solidário à medida que os motoristas forem se habituando a apertar o botãozinho. O mais livre de intermediários possíveis, sem ter de procurar o recurso de comunicação entre tantos outros nos aplicativos num momento tão delicado quanto é o da direção. Usou o dedinho e pronto: mensagem enviada.Sem entortar a coluna, virar o pescoço ou fazer algum movimento mais comprometedor dos olhos.

Mas que tipos de mensagens poderiam ser trocadas?

Gannam: Algumas possibilidades: “luz queimada”, “pneu murcho”, “emergência”, “farol alto!” (quando o cara cola na sua traseira e esquece o farol alto acionado), “pessoa doente no carro” (às vezes o motorista está em baixa velocidade por isso), animal/deslizamento à frente”, “incêndios”,”aquaplanagem”, “desculpe”, “obrigado”  e assim por diante.

Além da comunicação entre dois hardwares será possível alguém participar sem ter o aparelhinho instalado no veículo?

Gannam: Com certeza. Depois que concluímos o primeiro protótipo, comecei a me fazer novas perguntas. Como os todos carros terão o sistema de uma só vez? Impossível. Um sistemista, ou vários deles, precisariam convencer todas as montadoras a adotar o projeto em localidades selecionadas com muita pesquisa e planejamento para testes.

O que proponho é que algumas montadoras adotem o sistema. E que empresários do aftermarket automotivo encontrem um modelo de negócio lucrativo para o aparelhinho. Só que, nesse caso, os primeiros adotantes ficariam ilhados na participação da comunicação, pois a maior parte dos veículos ainda não teria o Comunicador instalado e, sem um planejamento/validação mais profundo, é difícil compreender a escalabilidade que o Comunicador teria isoladamente, se é que teria.

Por isso, desenvolvemos um aplicativo voltado especificamente para a comunicação rápida e segura que já pode interagir com os Comunicadores.  Com isso vamos incluir o maior número possível de pessoas neste conceito inventivo especializado na comunicação segura no trânsito.


Algumas montadoras vêm falando sobre essa possibilidade de troca de informações entre veículos como uma coisa para o futuro.  Sua invenção estaria pronta para ser executada em larga escala hoje? Qual o custo dela?

Gannam: Eu costumo dizer que se carros autônomos e tecnologias V2V são o futuro, o Comunicador Gannam é o presente! Meu projeto não diz respeito à comunicação entre veículos, mas sim a um tipo de comunicação muito especializada e segura entre motoristas!

Sua implementação comercial tem menos barreiras legais e necessidade de homologações, é acessível ao grande público, e com custo de fabricação de 20 dólares por unidade.

Além disso, quando um motorista pode conversar com o outro que está próximo, e este próximo pode conversar com um terceiro condutor, todos vão ser capazes de substituir o excesso de dados compartilhados por meio da única coisa que os robôs e tecnologias V2V não possuem: intuição.

Os recursos de conectividade que algumas montadoras estão implementando acarretam, em média, um custo de 500 dólares a mais por veículo na fabricação – uma porção descomunal do valor do veículo nas mentes dos consumidores.

Segundo uma pesquisa do Autotrader.com 56% dos proprietários de veículos disse que iria mudar para uma marca de veículo diferente para obter os recursos digitais que eles querem. Mas acredito que os consumidores não devem tentar controlar totalmente o processo de design para recursos de informação e entretenimento.

Até mesmo os motoristas que estão clamando por novas tecnologias consideram sua segurança fundamental. Esse mesmo levantamento constatou que 84% dos proprietários de veículo dão maior valor às características de segurança, em detrimento das de informação e entretenimento. Nesse contexto, meu sistema pode ser uma alternativa interessante e complementar aos sistemas que estão sendo projetados.

Gostou da entrevista? Conheça um pouco mais sobre o trabalho do Paulo Gannam aqui:


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